
1. Centro Brasileiro: Antes de tudo, Myriam, gostaríamos de saber como a estadia de pesquisa na Universidade de São Paulo contribuiu para sua pesquisa e carreira científica, e como afetou sua vida profissional.
Myriam: Quando estive lá, eu basicamente continuei trabalhando no mesmo projeto no qual já estava envolvida na Alemanha, mas nosso supervisor no Brasil era um dos colaboradores desse projeto. Então, foi muito bom poder conversar com ele pessoalmente, em vez de conversar por Zoom. Só de estar na mesma sala fez diferença. Trabalhamos uma vez por semana no hospital, e as pessoas de lá tinham alguns artigos ainda por finalizar. Então, eu também contribuí nessa parte. Principalmente na parte de comunicação científica, estruturação do artigo, ajudando a traduzir para o inglês, revisão, essas coisas. Espero que isso também me renda duas novas publicações das quais participei. Já foram submetidas, então…

2. Centro Brasileiro: Vamos passar para a segunda pergunta. Você enfrentou alguma dificuldade durante sua estadia de pesquisa? Se sim, quais foram?
Myriam: Não me lembro de nenhuma grande dificuldade. A principal desvantagem foi estarmos lá durante a pandemia. Trabalhamos principalmente do nosso apartamento nesse período, então fiquei feliz por ter ido com meu colega, o que tornou o trabalho mais agradável. Infelizmente, isso limitou a quantidade de pessoas que conhecemos, o que foi um pouco difícil. Mas também teve suas vantagens, porque morávamos num condomínio com piscina. Então, começávamos a trabalhar cedo e fazíamos uma longa pausa para relaxar na piscina ao sol. Isso foi ótimo!
Outra desvantagem foi não saber o idioma. Era muito difícil saber quem fala inglês. Algumas pessoas falavam, outras não sabiam uma palavra, ou às vezes fingiam que sabiam. Talvez eu devesse ter começado a aprender português um pouco antes. E não só com o Duolingo, porque o principal que aprendi lá foram nomes de animais e comidas. Tivemos sorte de outro estudante de graduação estar com a gente, e ele falava um pouco de português. Nas viagens, íamos sempre os três juntos, então tínhamos nosso próprio “tradutor”, e ele realmente sabia manter uma conversa. Eu sabia mais nomes de animais que ele, mas ele sabia conversar de verdade, então… difícil dizer qual habilidade era mais útil (risos).
Outro desafio foi que, no início, eu e o meu colega ficamos meio hesitantes em sair sozinhos, porque ouvimos de muitos amigos, familiares e colegas que São Paulo poderia ser uma cidade perigosa e que deveríamos ter cuidado. Mas aos poucos percebemos que, pelo menos no nosso bairro, Pinheiros, isso não era verdade (ou não mais do que em qualquer outra cidade). Para mim, depois de um mês foi o ponto de virada. Começamos a nos sentir mais à vontade, entendemos melhor como usar o transporte (bicicleta do Itaú, metrô etc.) e passamos a explorar muito mais o bairro: visitando restaurantes, indo a feiras e museus. As feiras foram uma experiência bem diferente da Alemanha ou da Holanda. Cada barraca quer que você experimente tudo que vendem, o que foi uma forma divertida de provar frutas exóticas (mas lembre-se de perguntar o preço, eu não lembro mais quanto pagamos por um kiwi, mas foi caro, haha).
Tem mais uma coisa: no começo, eu não percebi o quanto o CPF era essencial (algo como o número de identificação pessoal). Eu já tinha ouvido falar, e algumas pessoas disseram que eu podia tirar um. Pensei “ah, vamos ver” e não dei prioridade. Mas agora, olhando para trás, realmente deveríamos ter tirado. Facilita muito, pois pedem em vários lugares. Por exemplo, para conseguir o chip do celular brasileiro, precisávamos de CPF, então acabamos usando o do nosso supervisor. O problema é que ele acabou sendo cobrado pelos nossos chips. Então, recomendo muito tirar o CPF o quanto antes. Depois descobri que é bem fácil tirar online, mesmo sendo estrangeiro. Custa cerca de 10 reais, bem barato. No fim, não tiramos e conseguimos nos virar sem, mas teria sido muito mais fácil com. Você acaba precisando dele em lugares inesperados. Por exemplo, no centro de testes de COVID, tive que usar meu passaporte porque não tinha CPF, mas eles não estavam acostumados com passaportes, o que custou mais tempo e esforço do que o necessário.

3. Centro Brasileiro: Como a estadia de pesquisa afetou sua vida pessoal?
Myriam: Durante a estadia, muito, claro! Mas agora não afeta mais tanto minha vida pessoal, a não ser pelo fato de que virei aquela pessoa que sempre diz “Ah, quando eu estava no Brasil…” – agora eu sou essa pessoa (risos). E talvez tenham mudanças menores que nem percebo. Nada tão marcante como o rapaz que foi com a gente, conheceu uma moça, se apaixonou e agora está se mudando de volta para o Brasil… Mas acho que aprendi muito, não só sobre pesquisa, mas convivendo com novas pessoas em uma cultura diferente.

4. Centro Brasileiro: Você recomendaria essa experiência para outras pessoas?
Myriam: Sim, com certeza. Primeiro porque é muito divertido. O Brasil é um país muito legal, com pessoas simpáticas e gentis. E é muito bonito! A natureza é incrível. Alguns dos meus momentos preferidos foram durante as viagens, quando fazíamos trilhas pelas montanhas e coisas do tipo. O ponto alto foram as Cataratas do Iguaçu.
Também percebemos que os brasileiros são bem mais abertos que a maioria dos europeus. Um bom exemplo disso foi logo no início da nossa estadia, quando o Luis foi convidado para a festa de aniversário de um bom amigo de um ex-aluno dele (!). E nós pudemos ir também. O Luis nos levou a muitos lugares, o que foi ótimo. Fomos a um restaurante incrível (As Véia – O Velhão, http://www.velhao.com.br), um pouco fora de São Paulo, super recomendó! Ele também nos levou a Embu das Artes, onde há (entre outras coisas) uma feira de produtos artesanais: um ótimo lugar para comprar lembrancinhas para levar pra casa! Visitamos o centro de treinamento do Corinthians, onde tivemos um tour com o fisioterapeuta (o que pode parecer aleatório, se você não souber que somos do instituto de ciência do esporte), e fomos ao último jogo em casa deles (1-1, o Willian carregou o time, ótimo clima, vimos até um pedido de casamento, etc.). E fizemos muitas outras coisas legais que agora nem lembro. Principalmente comer muito (tantos rodízios!).
Outra dica legal: o cinema já é bem mais barato do que na Europa, mas, pelo menos no nosso cinema local em Pinheiros, eles tinham uma promoção às terças-feiras em que o ingresso custava só 10 reais (menos de 2 euros).
Essas são só algumas das muitas boas experiências. Enfim, eu recomendaria com certeza! E talvez agora, fora da pandemia, seja ainda melhor!
5. Centro Brasileiro: Vamos àquela expressão “Achados e perdidos na tradução”, você poderia expressar sua experiência no Brasil com uma palavra, frase ou citação?
Myriam: Quando vi essa pergunta, pensei: “Ok, devia ter começado a me preparar antes… e não só meia hora antes” (risos).
Então é… não pensei em nada.
Centro Brasileiro: Sem problemas! Vamos direto ao nosso momento do cafézinho. Preparou seu café?
Myriam: Tenho café e chá!

Centro Brasileiro: Como você já sabe, o momento do cafézinho é quando você se sente livre para nos contar sobre um mico, uma anedota ou uma história notável sobre sua experiência no Brasil. Em resumo, uma história que se conta tomando um cafézinho.
Myriam: Sim, muitos momentos. Mas são todos pequenos momentos, tipo, sei lá, ver macacos andando por aí, fazer café usando máscara de COVID porque estávamos sem filtro, essas coisas. Não sei se tenho grandes histórias. Como disse, em conversas, tenho muitas histórias do tipo “Ah, quando eu estava no Brasil…”. Ontem mesmo isso aconteceu – estávamos falando sobre idiomas, e me lembrei de quando estávamos no hospital onde trabalhávamos uma vez por semana. Havia muitas pessoas que, aleatoriamente, falavam alemão por lá. Isso me surpreendeu. Meu alemão não é tão bom (risos). Então eu ficava lá sentada, trabalhando, pensando meio em holandês, meio em inglês como sempre faço, e as pessoas falando português comigo e ao redor, e também alemão. Foi aí que percebi que quatro idiomas ao mesmo tempo são demais para o meu cérebro, haha.
Centro Brasileiro: Myriam, muito obrigado pelo seu depoimento! Foi realmente um prazer ouvir sobre suas experiências e ver como você reflete com carinho sobre seu tempo aqui! Estamos felizes que você tenha aproveitado tanto essa vivência e te parabenizamos pela estadia bem-sucedida! Desejamos tudo de bom para o seu futuro!
