
1. Como sua estadia na Universidade de Münster contribuiu para sua pesquisa e sua carreira acadêmica formação profissional?
Me parece que o impacto não é tão direto, mas uma das coisas foi obter um senso de responsibilidade maior. Ao ver uma outra perspectiva da relação entre as universidades, porque normalmente a gente trabalha focado na nossa rotina diária.
Como dessa vez estava representando a USP e vocês da Universidade de Münster, eu senti que não é só aquela rotina que a gente faz que conta. As nossas atividades tem uma responsibilidade maior e uma perspectiva diferente. O meu serviço tem impacto na relação entre duas universidades.
Eventualmente, essa aproximação pode resultar em alguma contribuição melhor entre as duas universidades. Então, a gente tem um impacto além [da nossa rotina]. Eu comecei a ter um senso de responsibilidade maior com as atividades. Tanto é que, assim que eu voltei, a gente ja teve um evento recebendo um pessoal de Portugal. Eu tratei um pouco diferente a situação, porque não é eu só eu fazendo um serviço para receber o pessoal de Portugal. Tem um impacto e uma consequência muito além.
Profissionalmente falando, eu vi que temos que ser cuidadosos, pois é uma responsibilidade bem maior que a gente imagina. A gente pensa no dia a dia, então vira rotina, nada demais. Mas é bastante coisa, a gente contribui muito no funcionamento das universidades, pra a continuação, para o aumento de pesquisa, para aumentar o alcance da universidade. Então é [um impacto] maior do que estava esperando.
De exemplo de vocês que eu tive, foi principalmente o modo de organização. Talvez até por falta de pessoal, devido a como funciona aqui na USP a contratação. Acho que são 10 anos sem contratar gente nova. Então as funções se confundem muito. E aí na Universidade de Münster não, é uma coisa muito mais clara, pra saber a função de cada departamento, a função de cada pessoa. Então é uma coisa que a gente consegue trazer para o dia a dia. Vamos organizar o fluxo e ter as coisas mais acertadas. Para primeiro, entender melhor e também se precisar melhorar, [então é possível] você consegue pontuar diretamente. E não ficar preso em uma pessoa, e separar as funções.
Isso ajudou bastante, essa experiência com vocês! Saber que dá pra organizar melhor as coisas aqui.
Eu tomei a sua atuação e da Anja como uma inspiração pra mim, pois vocês têm um conhecimento muito aprofundado da pesquisa dos professores que vocês auxiliam. Vocês têm aquele catálogo de professores interessados em fazer pesquisa no Brasil. Eu achei isso sensacional! Caramba!
Porque a gente ajuda. Tinha um pessoal da ECA por exemplo, procurando auxílio para uma visita de um professor de fora. Mas nós não temos um contato direto, não se sabe qual é a pesquisa da pessoa e qual seria o melhor professor para receber. Eu achei muito legal que vocês têm.
Sei lá onde vocês guardam essas informações na cabeça, mas é o professor da área tal, e tem um outro professor da mesma área! Eu fiquei impressionado! Esse contato com os professores e esse conhecimento da parte acadêmica e o domínio que vocês têm e esse cadastro de professores interessados também.
Eu falei aqui com o pessoal para ver se a gente conseguiria fazer algo do tipo.
E tanto que agora foi assinado um projeto da minha área, porque eu sou do administrativo. O pessoal da mobilidade está fazendo [o] USP Academy. Então temos essa maior proximidade, agora temos mais contato com os professores interessados, então para dar cursos pro pessoal da graduação e pós, e a gente também recebeu gente da America Latina toda e professores de muitos lugares. Então é muito legal ver isso.
O Welcome Centre também foi muito legal, porque é uma estrutura que a gente não tem aqui. A gente não tem uma estrutura centralizada para a recepção do pessoal da pós graduação e de pesquisa. A gente não tem nem um espaço físico como vocês. Esses apartamentos e alojamentos para pesquisadores, a gente também não tem. Então trabalhar com eles foi muito interessante, porque eu tinha zero experiência com esse tipo de administração aqui. Eu consegui, me reunindo com o pessoal, ver que eles tinham o pessoal que trabalha direto com outros orgãos de fomento, lembro que tinha contato direto com o pessoal, tinha um pessoal específico pra fazer o gerenciamento dos espaços onde os pesquisadores ficavam. Tinha um pessoal que auxiliava na documentação. Então é toda uma experiência.
A gente tem um protótipo do protótipo, bem pequenininho, que a gente auxilia só com a documentação. A gente faz um intermédio com o pessoal da polícia federal, mas é bem menor.
Então o tempo que eu passei com a pessoal do Welcome Centre foi participando nas reuniões deles e vendo as discussões de áreas mesmo, as funções de cada um, e realmente é uma estrutura muito impressionante! E pelo que eu entendi é uma parte central. Eles são responsaveis pela recepção do pessoal da pós e dos pesquisadores. É um serviço que dá uma diferença muito grande, um impacto muito positivo pra os pesquisadores que vão visitar a Universidade de Münster!
Aqui a gente percebe que é uma coisa mais solta, cada curso recebe [as pessoas] do seu jeito.
Então foi uma experiência muito interessante. A parte do Centro Brasileiro por ter esse foco em um país, nas universidades brasileiras como uma escolha estratégica. Porque tem um Centro Brasileiro focado nisso. A gente não tem uma estrutura equiparada aqui, um orgão especifico só focado nas universidades alemãs, ou para universidades dos Estados Unidos.
Então ver essas estruturas funcionando e tendo resultado é muito legal. Pra tentar agregar à universidade. É um tipo de iniciativa que passa do meu nivel, mas só de falar com os professores e com quem pode fazer alguma modificação é bem legal mesmo.

2. Você teve dificuldades de forma geral na tua sua experiência aqui?
Dificuldades acho que não. Acho que talvez as primeiras duas semanas, como é um projeto piloto, a dificuldade foi saber o que é que eu faço, o que eu posso falar e o que eu não posso. Qual vai ser o nível de atividade? Mas depois estabelecemos que seria para eu conhecer a estrutura. Porque eu vi um colega que teve uma experiência um pouco diferente por dominar o alemão, então colocaram ele para fazer algumas coisas no escritório, como ver e-mails e acompanhar as demandas dos alunos para acompanhar passo a passo. Então eu, por não ter o domínio da língua, fiquei um pouco distante dessa realidade mais próxima, acho que a dificuldade maior foi essa. Entender o que vai acontecer, e quando a gente começou a entender acabou o tempo. Começamos a marcar as reuniões e conhecer um monte de gente, mas aí acabou, foi absurdamente rápido! Então, eu acho que foi mais para conhecer. Esses primeiros 10, 15 dias. Depois que a gente estabeleceu uma rotina, ficou bom!

3. Como a estadia na Universidade de Münster para o Staff Exchange o afetou pessoalmente?
Foi a minha primeira experiência internacional e profissional num prazo maior que um mês. Porque normalmente são férias. E aí a gente vai com outra cabeça. Dessa vez eu fui sozinho e fui de maneira profissional, então eu estava com muito receio e eu não sabia se ia dar conta. Eu não sabia se ia ser proveitoso e estava cheio medo. Mas a gente encarou e eu sobrevivi, então na esfera pessoal você fica satisfeito. Porque no começo eu tinha muito medo. Quando eu cheguei aí eu pensei que ia morrer de frio e fome. Cheguei num dia chuvoso, frio, onze horas da noite. Pensei: “Acho que vou voltar semana que vem, deixa quieto!”. Aí eu encarei o desafio, e vocês facilitaram muito o desafio pra mim. Mas foi interessante essa parte,, porque é difícil chegar num lugar novo, não conhecer ninguém e ter que se adaptar. Por mais que tenha sido bem curtinho, só dois meses, eu entendi que dá pra dar conta. E inclusive me deu mais vontade ainda pra seguir a carreira acadêmica e ir pra fora, algo que eu não tinha vontade. Agora tenho essa vontade instaurada, que eu quero seguir os estudos fora.
Deu bom, aí você fala: “se deu pra aguentar o tranco disso, a gente consegue lidar com muito mais coisas!”

4. Você recomendaria Staff exchange e por quê?
Eu recomendaria, com certeza! Foi uma experiência muito enriquecedora. Como eu disse anteriormente, o pessoal foi muito receptível. O pessoal de vocês ajudou muito, a Universidade de Münster toda, não teve um lugar em que eu não fui bem recebido. O pessoal me recebeu e arranjou tempo pra mim. Tanto a parte profissional como pessoal, foi muito ganho. Eu recomendo sim, é 10 de 10. Eu tenho a noção de que vocês, ou seja, a equipe de vocês faz o diferencial. Não sei se todo mundo tem essa sorte., de ter essa experiência que eu tive. Se alguém perguntar sobre Münster, se é legal, eu diria: Vai! É maravilhoso.
Apesar de a gente não saber muito o que a gente ia fazer no começo, ninguém me recebeu mal. Até o pessoal do escritório de direito conversou comigo, falou do tamanho da equipe e explicou como funciona. Eles explicaram tudo, super legal, tiraram um tempo. Eu fiquei mal acostumado! [risos]

5. Achado ou perdido na tradução? Você pode “traduzir” essa experiência com uma palavra, uma frase ou uma citação?
Acho que uma frase seria : “Independente do lugar, a gente é tudo igual“. Eu não sei como colocar melhor. Eu estava com muito receio do choque cultural com relação ao trabalho e ao tratamento com as pessoas. Então, eu percebi que era todo mundo igual, não tem essa. Obviamente tem várias diferenças culturais, de convivência e de experiência de vida. Só que me deu muita tranquilidade, algo que eu até comentei com o pessoal do Welcome Center quando eu estava saindo. Eu esperava que vocês não seriam tão hospitaleiros e seriam mais distantes e todo mundo me recebeu bem e foi super prestativo. Você vê que o pessoal quer fazer a diferença, trabalhar e, desenvolver. E são pessoas como a gente. Uma frase que fica é essa, que, apesar dos lugares diferentes, é todo mundo igual, é tudo gente. E os problemas são os mesmos também. Me deu uma tranquilidade no coração, ver que são as mesmas coisas, os mesmos problemas.

O momento do cafézinho
Vamos para o nosso momento cafézinho? E quais foram as histórias que você viveu que te marcaram durante o Staff Exchange? Vamos tomar um cafézinho enquanto você me conta?
Olha, eu acho que eu tenho umas duas histórias!
Eu não sei se contei pra vocês, mas que eu virei um pai de pet culposo!
Teve um dia que estava chovendo e estava frio de noite. E eu tenho um gato no Brasil. Eu estava indo dormir e ouvi um miado distante. Eu achei que era saudades do meu gato, pois estava muito frio e, choveu bastante de noite. E eu ouvia aquele miado longe e distante.
O alojamento tinha um formato de U em uma praça, ai eu pensei: Não é possível! Eu abri a porta, e tinham outras pessoas na sacada procurando o gato também. Tinha um gato por ali, não era só eu! E a gente estava procurando, e perguntando se o gato era de alguém, mas ninguém sabia. O gato, nesse momento, subiu tudo e ficou na porta do meu apartamento. E como eu tenho um gato também, meu coração quebrou! Estava frio e chovendo, e tinha gente chamando ele pros outros apartamentos, o que ele não queria. Quando eu abri a minha porta ele entrou direto.
Eu pensei, meu deus! O que eu vou fazer com esse gato! Ele ficou lá, dormiu, e de manhã eu abri a porta e ele saiu. Eu coloquei uns potinhos com comida e água, e foi isso.
Ele entrou, deu uma olhada no quarto, dormiu. Eu fiquei sem coragem de tirar ele, mas ele tava super bem cuidado. Acho que começou a chover e ele se escondeu.

No ônibus
Eu estava voltando do Centro Brasileiro de ônibus pro alojamento. Estava sem coragem de ir de bicicleta por causa do frio. Todo ponto de ônibus alguém estava apertando o botão. Quase não tinha ninguém no ônibus. O ônibus andava um pouquinho e alguém apertava o botão. Eu pensei, caramba! O quê é que está acontecendo?
O motorista parou e começou a falar em alemão com alguém e eu, pensei que não era comigo . Aí o cara parou, olhou pra mim no retrovisor interno e eu percebi qeue alguém estava encostado no botão!
Olha o alguém aqui. Eu! Eu estava encostado no botão e estava apertando sem parar. Eu não vi que era eu, aí o pessoal ficou olhando e me deu vontade de sair correndo do ônibus! Parei no próximo ponto e decidi esperar pelo próximo ônibus [risos].

Visita ao castelo
Eu fui para um castelo [Em uma cidade pequena?] no meio do nada, e essa história eu guardo muito pra mim. Foi a mais bonitinha . Estava muito frio e todos os trens estavam todos com um horário alterado, por causa de uma greve. Aí de manhã eu pensei que ia demorar umas 3 horas pra chegar lá. Eu olhava o horário e pensava: “Acho que não vou, não”. Ai eu pensei: “Eu vou! Se não der, não deu!”. E aí tinha pouca gente na rua naquele dia, por causa da chuva e do frio. Então, eu fui para a estação. Chegando lá, a cidade era bem pequenininha, e o castelo é bem bonitinho. Chegando na estação de trem você vê o castelo e uma subida.
Resumo: Chegando lá, você anda da estação até um ponto de ônibus, até um terminal. Aí tem os ônibus que deixavam lá na porta do lugar. Que maravilha! Vou de ônibus sentadinho. Peguei o ônibus… errado! E estava chovendo, e eu com preguicinha. Então fui andando pro outro lado da cidade. Então eu percebi que o ônibus não estava indo pra onde eu queria ir!
E eu, na preguiça de não querer subir o pedaço, tive que andar. Acho que andei uma hora pra chegar no lugar, com um cafézinho na mão. Fiquei na chuva, tomando meu cafézinho na chuva. Chegando lá valeu a pena. Que lugar bonito! Não tinha ninguém, estava bem vazio.
Um castelo inteiro só pra mim, muito bonito. Aí eu pensei, valeu a pena sofrer! Saí com o trem dando problema, pegando o ônibus errado e no final fiquei muito impressionado. Foi uma experiência que eu pensei: Ainda bem que eu vim!
É lindo, mesmo não sendo um castelo tão grande. Mas fica no topo do dava pra ver o rio, almoçar lá! Eu super indico, inclusive.
E assim, essa foi uma experiência que eu me surpreendi. Eu fui sozinho e normalmente eu não gosto de fazer passeio sozinho. Mas eu percebi que é legal, dá pra fazer e eu estou aqui, tem que aproveitar!
E aí eu conheci mais coisas do país, da Alemanha. Fiquei muito impressionado mesmo.
Thiago, muito obrigado pelo seu relato! Foi realmente maravilhoso ver você compartilhar suas vivências de forma tão aberta e entusiasmada. Ficamos muito felizes em saber quantas impressões você pôde reunir durante sua estadia na Universidade de Münster – tanto no âmbito profissional quanto pessoal. Desejamos tudo de bom para o seu caminho futuro e esperamos que a conexão com Münster permaneça viva e que nossos caminhos voltem a se cruzar no futuro!
